segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A evolução em números

Que tal essas entradas, Doutor?

Pois é, o ano dez lá passou a onze e o iva de vinte e um subiu para vinte e três.

Hoje tive a notícia de que dois amigos passaram a três seres.

Entretanto, acredito que algures uma pessoa apaixonada terá sentido que passou a duas, enquanto que outra terá tomado consciência de que dois ficaram reduzidos a um.

Seis batatas num prato terão passado a nove ao mesmo tempo que vinte tripulantes do metro deram lugar a quatro.

Enfim, a dança dos números continua imune à meia-noite dos dias trinta e um de Dezembro, alimentando os momentos com diferentes cargas emocionais.

É incrível a forma como a passagem de ano tem implícita a eterna esperança de que se acordará no dia seguinte com uma disposição diferente e que, apesar do ardor no estômago, o mundo se aprefeiçoou durante as poucas horas em que dormimos.

Doutor, o mundo alterou-se, é verdade, mas apenas se trata de mais uma das muitas evoluções que ocorrem a cada segundo, em cada ser, nos muitos milímetros que formam a Terra. Se assim não fosse, nunca teríamos passado de Australopithecus a Homo Sapiens Sapiens.

Nos livros de História, somos apresentados como seres excepcionais, que se distinguem dos restantes animais pela capacidade de sentir, de raciocinar, de amar, de criar, de evoluir, de dar um sentido à morte, de...

Diga Doutor? A fria capacidade de destruição? A ganância? As desigualdades? A inveja? A apatia?

Pois, é óbvio que a descrição da nossa espécie quando comparada com os actos dantescos realizados por alguns desses mesmos seres gera a dúvida se não teremos sido vítimas de publicidade enganosa na escola desde tenra idade.

Sabe, acho que o principal problema é a confusão que se instalou. Estamos na mesma fase evolutiva há demasiado tempo e isso satura. Falta-nos a paciência para querer mudar de forma sustentável e dedicamos demasiado do nosso tempo aos gadjets e às novidades da moda. "Upa, upa! Vou enviar um mms para os meus amigos com uma foto das novas dobras nas bainhas das calças, que passaram de três a cinco centímetros, uuuiiiii. Que máximo!!" ou "Hum, temos que ser inovadores... vou criar... a roda quadrada!".

Já nem falo de quando os telemóveis passarem a ferro e os mp4 (nessa altura já serão os mp64645363940!) contruírem casas... Aí, sim, seremos senhores do mundo!

O mais curioso de tudo isto é que foi a evolução na capacidade de termos sentimentos que nos tornou seres sábios e racionais.

O resto? São acessórios que podem contribuir para dar cor à vida, mas que nunca serão suficientemente importantes ao ponto de se tornarem na própria tela.

Oh Doutor, e se uma tela corresponde a uma vida genuína urge decidir qual o tema que queremos atribuir ao mundo, enquanto exposição dos seres que nele habitam...

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