quinta-feira, 20 de março de 2008

Futilidades

Doutor,

Hoje deixo um simples enigma.

Não me apetece dizer muito mais, até porque as respostas espontâneas não pertencem a quem quer que seja, nem ao Tempo...

Aqui vai:

E se as rosas não fossem tão fúteis… como tu, amor?

E se as nuvens pudessem ter, só por hoje, aquela energia… relâmpagos, trovões, a força bruta que tudo arrasa, que tudo estremece…

A essa energia apenas é comparável uma outra... igualmente magnífica, igualmente possante… o tremor do primeiro beijo, do toque extasiado, do primeiro sussurro quente no pescoço… o tremor do corpo e a força do sorriso sincero…

Que fútil… como tu, amor… que fútil…

sexta-feira, 14 de março de 2008

Pesar...

Olá Doutor....

Sim, sim.... está tudo a andar.... a fluir.... enfim, vive-se...

Hoje tenho uma estranha sensação de pesar.... sem perceber porquê...

Pesar nas palavras... ditas, pensadas, escondidas, inexistentes... de muitas ou daquelas especificamente...

Pesar prós e contras...

Pesar o impacto dos outros e do mundo na minha vida...

Ai, Doutor.... (suspiro) ....

Isto é assim um misto de estados de espírito dentro de um shacker com uma cobertura zen muito ténue...

Sinto-me observada pelo mundo e com vontade de ver algo, mas não percebo para onde devo olhar... Quando nos sentimos observados é porque alguém inspira a nossa existência algures... eu sinto-o de vez em quando... o Doutor não?

Oh Doutor, hoje não me apetece ouvir as suas versões académicas da vida, desenvolvidas em laboratórios e bibliotecas abstraídos do mundo real.

Doutor, eu sei que não concorda (provavelmente porque nunca lhe ensinaram isto na escola e pensa que se não vem nos livros, logo não existe), mas... as soluções dessa estirpe são ambíguas e inadequadas.

Deixe-me estar aqui... simplesmente estar, num divã que de meu nada tem, num mundo que não compreende nem está interessado em lutar pela simplicidade possível em todas em coisas....

Doutor, não enlouqueci, nem desisti do que ou quem quer que seja...

Apenas me apetece ser eu.... ficar aninhada, em posição fetal, sentir o cabelo espalhado pelo tecido e fazer parte do que me rodeia... sem o pesar... leve... sem ter medo de dar... nem de receber... leve...

Posso ficar assim só por um bocadinho, Doutor? Posso?

segunda-feira, 3 de março de 2008

A loucura das coisas sérias...

Doutor,

Voltei a tomar a medicação! Olho-me ao espelho e já consigo ver um brilhozinho nos olhos... Sinto-me eu!

Diga Doutor?.... Amor?... Acha?!

Ah ah ah ah ah ah ah! Doutor, por favor, falemos de coisas sérias!

Claro que o Amor existe, mas tem inúmeras caras... as das pessoas cuja existência (presente ou ausente) dá sentido a uma parte do mundo. As pessoas com quem partilhamos a loucura de estarmos vivos. Ah sim, porque estar vivo é uma loucura fabulosa à qual ninguém é imune, por mais que tente manter-se racional.

O quê? Que teoria é essa da loucura não poder ser saudável? É o mesmo que aceitar o lado cinzento da vida sem o questionar... Meu caro doutor, é a loucura que nos permite escolher as cores da vida, por mais kitsch que seja o resultado final!

Tenho conversado consigo sobre coisas sérias e cheguei a um estado de espírito quase deprimente, a balbuciar tretas do tipo "medo da felicidade" e afins...

Oh, por favor, o Doutor diz-me que é normal? Como pode ser normal abdicar de momentos valiosos da vida a falar sobre possibilidades? As possibilidades são geradas connosco, crescem durante nove meses no útero materno e quando saem para o mundo, continuam sempre lá, à semelhança dos gémeos monozigóticos (repare na linguagem técnica, fica sempre bem).

A magia acontece quando as nossas possibilidades se cruzam com as possibilidades dos outros e "big baaaaaaaang", surgem as certezas! E a felicidade é isso mesmo, um mix de possibilidades!


As pessoas que vêem certezas em tudo e usam os seus umbigos como ponto de partida na sua relação com o mundo tornam-se seriamente ridículas.

Doutor, estou farta de me deparar com o lado nublado das pessoas, incluindo o meu. Irrita-me a complexidade das coisas, das relações, do quotidiano, com certezas aparentes que geram milhentas dúvidas irracionais...

Chega, Doutor!! Recuso-me a viver assim e lanço-lhe o desafio de ver as cores de cada possibilidade com que se deparar na próxima hora! Sinta o mundo e decida que cores quer sentir.

Será assim tão difícil viver de forma simples e genuína?

Será assim tão difícil rebolar na relva acabada de cortar até mergulhar numa piscina de pelúcia, suspensa por balões feitos de gelatina, e sobrevoar o mar durante uma uma tempestade de pintarolas e vento com cheiro a campos de flores silvestres?