quinta-feira, 29 de julho de 2010

Areia...

Boa tarde Doutor,

Este calor mexe com qualquer um, chiça! Nem sei o que me apetece fazer... se devo ceder à moleza ou pegar no carro e meter-me a caminho de uma praia qualquer, de preferência deserta e a dez minutos de carro de uma metrópole cheia de coisas, estados de espírito, experiências, vidas boas, más e assim assim...

Hoje apetece-me dizer coisas sem nexo, entrar no verdadeiro mundo do devaneio e provar a mim mesma que é possível fazer uma viagem até à loucura e voltar.

Não o faço com ânsia ou desespero, apenas porque sim, apenas porque sinto dentro de mim uma ténue urgência em acreditar que a loucura se apura com a idade e que de nada vale lutar contra o tempo.

Sabe, sinto-me a envelhecer...

Não, doutor, não é o terror anti-rugas ou algo do género. Trata-se de algo mais profundo, de uma estranha paz que se vai entranhando. É curioso, a menina faladora da comunicação não tem palavras para descrever o que sente... É tão ridículo que chega a dar vontade de rir.

A palavra que a mente me propõe é... ritmo. Sim, doutor, ritmo.

Sinto-me a crescer, a encontrar novos ritmos, a viver uma nova fase da vida que se prolonga, sem ter pressa de mudar, mas consciente de que o meu lado nómada nunca se dissipará. Talvez seja a isto que chamam de maturidade...

Não sei onde estarei daqui a um ano, mas deixei de me preocupar com isso porque sei que farei as malas quando me apetecer, isto é, quando deixar de me entusiasmar com aquilo que o meu dia-a-dia me dá. Quem sabe se não me encontrarei no mesmo sítio... ou talvez dê comigo longe daqui com mais uma experiência guardada na mala de viagem... não quero saber....

Diga, doutor? O que procuro?

Hmmm, perguntas difíceis... O que procuro? O que quero da vida?

Em primeiro lugar, deixei de querer sentir-me cem por cento feliz, o que não é de todo negativo. Ninguém com alma de nómada conquistará esse estado porque quererá sempre subir ao monte seguinte depois de atingir aquele a que se propôs.

O que quero? Quero ter uma vida com momentos felizes, verdadeiros, intensos.

A tia Pallete tinha razão quando falava dos castelos de areia. A única diferença é que, actualmente, tenho a estranha certeza de que terei o meu castelo, o mais belo castelo que alguma vez vi, construído com a areia trazida pela imensidão de pessoas com as quais me fui, vou e irei cruzando durante a vida. A "obra genuína" será minha, mas a areia virá de toda a parte.

A vida é assim, ganha forma com cada grão de areia que nos entregam de bom ou mau grado. Não me interessam as quantidades que recebo de cada um, o que importa é que terei o meu castelo e não tenho pressas para o terminar porque é na construção que devemos ter gozo, não apenas no produto final.

Estou numa fase em que sinto plenamente a construção do castelo e decidi que não quero passar a vida a correr, com medo que o tempo me apanhe, com receios antecipados, com dúvidas de como será o dia seguinte...

Quero continuar a entregar-me aos gritos da alma com a calma que me apetecer ter a cada momento. Nunca na ânsia de que me ouçam, mas com vontade de me ouvir a mim mesma e saber que estou viva, de que sou nómada, de que não me calo, de que me questiono e de que vale a pena construir simples castelos de areia num mundo que se vai perdendo aos poucos devido à vontade ignorante de possuir grandes propriedades...

Para quê entregar-me aos sonhos se o castelo é real? Venha mais areia!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Palavras de passagem

Olá divã!

Hoje o doutor não está, por isso restamos os dois! Uma dupla fantástica nesta noite de Verão em que o povo anda na rua e a crise se limita aos ecos dos aparelhos de televisão...

Estou apenas de passagem e, como não me apetece partilhar-me, apenas relembro que de nada vale passarmos a vida a querermos muito, basta querer o que realmente importa e procurar a loucura dentro da estabilidade.

Talvez os nómadas não precisem de fazer as malas e partir sempre que lhes apeteça. Talvez a verdadeira felicidade passe por partilharem uma vida sedentária com outros nómadas que, tal como eles, conseguem vibrar com coisas simples e consideram como sentido da existência o simples facto de terem nascido com o dom de saborear cada segundo.

Talvez parta um dia, quem sabe, mas hoje sinto que não devo sair de onde estou porque aqui é o ponto de encontro com a felicidade. Não falo de algo ou alguém em particular, apenas na vida no seu todo!

Apetece-me fechar os olhos e deixar-me estar até ouvir um sussurro "Cheguei!".

Adeus, volto em breve!